
Bandeira de Itália: Cores, significado, história, origem
A bandeira italiana, com as suas faixas verticais de verde, branco e vermelho, é mais do que um símbolo nacional. Incorpora séculos de luta, unidade e identidade cultural que moldaram a Itália moderna. Conhecido carinhosamente como “Il Tricolore”, este emblema icónico surgiu durante um período de fervor revolucionário e de despertar nacional. As suas três cores ousadas testemunharam a transformação de estados italianos fragmentados numa nação unificada, resistindo à monarquia, ao fascismo e à república. A história da tricolor italiana é, em muitos aspectos, a história da própria Itália. Rica em história, profundamente simbólica e imediatamente reconhecível em todo o mundo.
Resumo rápido
A bandeira italiana, conhecida como “Il Tricolore”, apresenta três faixas verticais de igual largura, coloridas a verde, branco e vermelho. Adoptada pela primeira vez em 7 de janeiro de 1797 pela República Cispadana durante a era napoleónica, tornou-se a bandeira nacional oficial após várias transformações.
A bandeira teve origem numa cocar tricolor apresentada à Guarda Nacional da República Transpadana em 1796. O seu desenho foi influenciado pela tricolor francesa, mas criou uma identidade italiana distinta ao substituir o azul pelo verde.
Durante o Risorgimento (movimento de unificação italiana), a tricolor com o brasão de armas de Saboia na faixa branca tornou-se a bandeira do Reino de Itália de 1861 a 1946. Na sequência do referendo que instituiu a República em 1946, o brasão foi retirado, dando origem à tricolor simples que conhecemos atualmente.
O simbolismo das cores, embora não esteja oficialmente definido, é comummente entendido como: o verde, que representa a paisagem italiana e a esperança; o branco, que simboliza a fé, a paz e a neve dos Alpes; e o vermelho, que honra o sangue derramado pela independência.
Origens do Tricolor
Início da Revolução (1796-1797)
O nascimento da tricolor italiana está indissociavelmente ligado ao período turbulento que se seguiu à Revolução Francesa. Quando as campanhas de Napoleão Bonaparte varreram a península italiana em 1796, trouxeram consigo não só a conquista militar, mas também ideais revolucionários de liberdade e identidade nacional. Estas campanhas catalisaram sentimentos nacionalistas entre os italianos que há muito viviam sob reinos, ducados e repúblicas separados.
A primeira versão do que viria a ser a bandeira nacional italiana surgiu na Lombardia. Em 9 de outubro de 1796, uma cimalha tricolor de verde, branco e vermelho foi apresentada à Guarda Nacional da República Transpadana, um estado satélite napoleónico estabelecido no norte de Itália. Embora não se tratasse ainda de uma bandeira propriamente dita, marcou a primeira utilização oficial destas três cores como símbolo nacional.
A República de Cispadane e a primeira adoção oficial
O momento crucial da história da tricolor ocorreu a 7 de janeiro de 1797, na cidade de Reggio Emilia. Aí, a República Cispadana, outro Estado de curta duração formado durante a era napoleónica, tomou uma decisão histórica que ecoaria ao longo de séculos da história italiana. Durante uma reunião formal, o deputado Giuseppe Compagnoni propôs que o “Estandarte de Cispadane ou Bandeira de Três Cores, Verde, Branco e Vermelho” fosse adotado como bandeira oficial da república.
Esta proposta foi aprovada por unanimidade, tornando a República Cispadana o primeiro Estado soberano italiano a adotar oficialmente a tricolor. O desenho original apresentava uma disposição horizontal das três cores (ao contrário das faixas verticais que se vêem atualmente), com o brasão da república exibido de forma proeminente no centro. Esta importante decisão é agora comemorada anualmente como “Dia da Tricolor”, a 7 de janeiro.
Influência napoleónica no design
A influência da tricolor francesa na bandeira nacional de Itália é inegável. Tanto na disposição das cores como no espírito revolucionário, a bandeira italiana inspirou-se na sua congénere francesa. No entanto, havia diferenças cruciais desde o início. O desenho italiano substituiu o azul francês pelo verde, criando uma identidade nacional distinta, sem deixar de honrar os ideais revolucionários que inspiraram ambas as nações.
A escolha de faixas horizontais na bandeira original de Cispadane reflectia o arranjo francês, mas isso viria a mudar mais tarde. Em 25 de fevereiro de 1797, a República de Cispadane modificou o desenho da sua bandeira, adoptando faixas verticais que a distinguiam ainda mais da tricolor francesa. Esta disposição vertical acabaria por se tornar o padrão para a bandeira nacional italiana que reconhecemos atualmente.
Apesar de ter nascido num período de influência francesa, a tricolor italiana desenvolveu rapidamente o seu próprio carácter e significado. Tornou-se um símbolo poderoso, não do controlo francês, mas das aspirações italianas à independência e à unidade. Nas décadas que se seguiram, à medida que vários estados italianos lutavam pela libertação e unificação, a bandeira verde, branca e vermelha surgiria como o emblema natural da identidade nacional italiana que estava a começar a tomar forma.
Evolução histórica através de períodos-chave
Era pré-unificação (antes de 1848)
Antes de a Itália se tornar uma nação unificada, a península era um mosaico complexo de Estados separados. Cada uma destas entidades tinha a sua própria bandeira e símbolos de autoridade. Os Estados Papais usavam a bandeira amarela e branca com as chaves papais. O Reino das Duas Sicílias ostentava a bandeira branca com o brasão dos Bourbon. O Grão-Ducado da Toscânia ostentava um lírio vermelho sobre fundo branco. Apesar desta fragmentação, a tricolor verde, branca e vermelha ganhou gradualmente popularidade como símbolo da unidade e das aspirações italianas.
Após a curta duração dos Estados Napoleónicos, a tricolor passou à clandestinidade. Depois de o Congresso de Viena, em 1815, ter restaurado muitas das antigas monarquias, exibir a tricolor tornou-se um ato de rebelião política. Sociedades revolucionárias como os Carbonários adoptaram as cores tricolores nas suas insígnias secretas, mantendo o símbolo vivo durante os anos repressivos entre 1815 e 1848. Estas cores tornaram-se cada vez mais associadas ao crescente sentimento de unificação italiana conhecido como o Risorgimento.
Ao longo deste período, a bandeira tricolor surgiu espontaneamente durante revoltas e levantamentos em toda a península italiana. Embora muitas vezes reprimida pelas forças austríacas e pelos governantes conservadores, a popularidade da bandeira cresceu de forma constante entre aqueles que sonhavam com uma Itália unida. Os patriotas e os revolucionários arriscavam-se a ser presos ou a algo pior para exibir estas cores proibidas, transformando a tricolor de uma mera bandeira num poderoso símbolo de aspiração nacional.
Período do Risorgimento (1848-1870)
A onda revolucionária que varreu a Europa em 1848 marcou um ponto de viragem para a tricolor italiana. Quando o rei Carlos Alberto da Sardenha promulgou uma constituição e declarou guerra à Áustria em março de 1848, adoptou oficialmente a tricolor com a adição do brasão de armas da Saboia no centro. Foi a primeira vez que um grande Estado italiano adoptou oficialmente a tricolor como bandeira nacional, dando-lhe nova legitimidade e proeminência.
A Primeira Guerra de Independência Italiana assistiu ao estabelecimento de governos revolucionários em toda a península, nomeadamente a República Romana e a República de São Marcos em Veneza. Cada um deles adoptou variações da tricolor, solidificando o seu papel como símbolo universal da unidade e independência italianas. Embora estes governos revolucionários tenham acabado por ser suprimidos, a tricolor estabeleceu-se firmemente como o emblema do nacionalismo italiano.
Durante a década de 1850, o Reino da Sardenha, sob a direção do Conde Camillo di Cavour, continuou a utilizar a bandeira tricolor com o emblema da Saboia. Como a Sardenha se tornou a campeã da unificação italiana, a sua bandeira tornou-se o estandarte em torno do qual se reuniram os esforços de unificação. Giuseppe Garibaldi e os seus famosos “Mil” voluntários levaram esta bandeira na sua campanha de libertação do sul de Itália em 1860, espalhando a tricolor de norte a sul.
Reino de Itália (1861-1946)
Quando o Reino de Itália foi proclamado a 17 de março de 1861, com Victor Emmanuel II como primeiro rei, a bandeira tricolor com o brasão de armas de Saboia tornou-se a bandeira oficial da nação unificada. O desenho apresentava faixas verticais de verde, branco e vermelho, com as armas reais da Casa de Saboia bem visíveis na faixa central branca. Esta versão da bandeira manter-se-ia em uso durante os 85 anos seguintes, ao longo de alguns dos períodos mais turbulentos da história italiana.
O desenho da bandeira manteve-se consistente durante o período liberal da história italiana, as duas guerras mundiais e a era fascista de Benito Mussolini. Mesmo durante o período fascista (1922-1943), o desenho básico da bandeira manteve-se inalterado, embora o regime tenha acrescentado símbolos fascistas às bandeiras dos estados e às normas militares. A continuidade da tricolor ao longo destes diferentes sistemas políticos sublinha a sua importância como símbolo que transcendeu regimes específicos.
Durante a Segunda Guerra Mundial, após a queda de Mussolini em 1943, a Itália dividiu-se. A República Social Italiana, apoiada pelos nazis, no norte, utilizou uma bandeira tricolor com uma águia, enquanto o Reino, no sul, agora aliado dos Aliados, continuou a utilizar a bandeira tradicional com as armas de Saboia. Esta divisão da bandeira reflectia a trágica divisão do próprio país durante os últimos anos da guerra.
República Italiana (1946-presente)
O capítulo moderno da história da tricolor começou com o nascimento da República Italiana. Após a Segunda Guerra Mundial, os italianos votaram em referendo, a 2 de junho de 1946, pela abolição da monarquia. Como a Casa de Saboia já não governava a Itália, o brasão de armas foi retirado da bandeira, voltando a ter as simples faixas verticais de verde, branco e vermelho que reconhecemos atualmente. Esta tricolor pura tornou-se a bandeira oficial da nova República Italiana.
A constituição republicana, que entrou em vigor a 1 de janeiro de 1948, reconheceu formalmente a tricolor como bandeira nacional no artigo 12º, que afirma: “A bandeira da República é a tricolor italiana: verde, branca e vermelha, em três faixas verticais de dimensões iguais.” Este reconhecimento constitucional cimentou o estatuto da tricolor como o principal símbolo nacional.
No período pós-guerra, a tricolor serviu de símbolo unificador para os italianos. Voa orgulhosamente sobre edifícios governamentais, escolas e espaços públicos. Aparece em eventos desportivos, celebrações culturais e cerimónias oficiais. A remoção do emblema real transformou a bandeira de um símbolo do reino numa representação do próprio povo italiano, transcendendo as divisões políticas e abrangendo todos os cidadãos.
Design e simbolismo
Disposição vertical das três cores
A bandeira italiana é constituída por três faixas verticais de dimensões iguais, apresentando a cor verde no lado da haste, a cor branca no centro e a cor vermelha no lado da haste. Esta disposição vertical distingue-a de muitas outras bandeiras tricolores, nomeadamente da bandeira francesa, que apresenta faixas horizontais. A orientação vertical foi adoptada em 1797, quando a República Cispadana modificou o seu desenho horizontal original, criando uma identidade visual distinta que se manteve consistente ao longo dos séculos da história italiana.
As proporções da bandeira são padronizadas num rácio de 2:3, o que significa que, por cada duas unidades de altura, a bandeira se estende por três unidades de comprimento. Esta especificação precisa garante a uniformidade em todas as exibições oficiais da tricolor italiana, desde edifícios governamentais a eventos internacionais. A largura igual de cada faixa de cor reforça a igualdade simbólica dos valores que representam, não havendo um único elemento que domine os outros.
Significados e interpretações das cores
Os significados atribuídos às três cores da bandeira italiana evoluíram ao longo do tempo, com várias interpretações a ganharem proeminência em diferentes períodos históricos. Não foi atribuído qualquer simbolismo oficial às cores quando a bandeira foi adoptada pela primeira vez, deixando espaço para interpretações populares que se tornaram parte do entendimento cultural italiano.
Verde: A interpretação mais comummente aceite é a de que o verde representa a exuberante paisagem italiana, a vegetação mediterrânica dos maquis e as ricas tradições agrícolas do país. Alguns relatos históricos sugerem que simboliza a esperança no futuro e a natureza sempre verde dos ideais italianos. Outros apontam para a sua ligação com a cor do uniforme da guarda cívica milanesa durante o período revolucionário.
Branco: Esta cor central é amplamente entendida como representando a fé e a pureza. Em algumas interpretações religiosas, está ligada às fortes tradições católicas de Itália. Numa perspetiva mais secular, simboliza a neve dos Alpes que forma a fronteira natural do norte de Itália e a pureza da causa italiana durante a unificação.
Vermelho: Talvez a cor mais emotiva da tricolor, o vermelho representa geralmente o sangue derramado pelos italianos na luta pela independência e unificação. Encarna a paixão, o sacrifício e a coragem do povo italiano ao longo da sua história. Algumas interpretações ligam-no também à caridade na tradição cristã, fazendo parte de uma leitura teológica da bandeira, juntamente com a fé (branco) e a esperança (verde).
Outra interpretação popular associa as três cores a elementos culturais e históricos italianos específicos: o verde para as planícies e colinas, o branco para os Alpes cobertos de neve e o vermelho para o sangue derramado nas guerras da independência italiana. Alguns historiadores apontam também para possíveis ligações com as cores de Milão (branco e vermelho) combinadas com o verde do uniforme da guarda cívica milanesa.
Influências históricas na seleção de cores
A seleção destas cores específicas não foi arbitrária. As provas históricas sugerem que a combinação de verde, branco e vermelho foi inspirada em várias fontes. O vermelho e o branco já estavam presentes em muitas bandeiras e brasões regionais do norte de Itália, particularmente na Lombardia e na Emília-Romanha. A adição do verde criou uma combinação única que era distintamente italiana, reconhecendo ao mesmo tempo o espírito revolucionário da época.
Alguns estudiosos apontam a influência da Maçonaria e a sua ênfase nos valores universais na seleção destas cores. Outros observam que estas cores estavam associadas aos ideais republicanos que emanavam de França durante o período revolucionário. No entanto, o que torna a tricolor italiana única é a forma como adaptou estas influências num símbolo distintamente italiano que transcendeu as suas origens revolucionárias.
Proporções exactas e especificações oficiais
A bandeira italiana moderna é regida por especificações precisas que asseguram a coerência na sua produção e apresentação. As dimensões oficiais especificam um rácio 2:3, embora este possa ser ajustado para 3:5 para determinadas utilizações internacionais, a fim de corresponder às proporções de outras bandeiras nacionais. As três faixas verticais devem ter uma largura exatamente igual.
As especificações exactas da cor foram normalizadas nos últimos tempos. O verde é especificamente definido como “verde bandiera” (verde bandeira), uma tonalidade particular distinta dos outros verdes utilizados nas bandeiras. Do mesmo modo, o vermelho é o “rosso bandiera” (vermelho bandeira), uma tonalidade vibrante cuidadosamente selecionada para manter a sua visibilidade e distinção em relação a outras bandeiras nacionais. O branco é puro, sem qualquer tonalidade ou sombra.
Para uso oficial do governo, as cores são definidas por modelos de cores precisos:
- Verde: Pantone 17-6153 TCX “Verde Clássico”
- Branco: Branco puro
- Vermelho: Pantone 18-1662 TCX “Chama Escarlate”
Estas normas rigorosas garantem que, quer seja exibida em Roma, Milão ou em qualquer parte do mundo, a tricolor italiana mantém a sua aparência distinta e a sua presença digna, imediatamente reconhecível como o símbolo da identidade nacional italiana.




